Um grito arrepiante — Apenas 17 palavras que o filho de 9 anos gritou ao lado do caixão de Susana Gravato fizeram todos estremecerem…

 

Um Grito Arrepiante: As 17 Palavras que o Filho de 9 Anos Gritou ao Lado do Caixão de Susana Gravato

O sino da Igreja Matriz de Vagos dobrava devagar, como se o próprio céu chorasse. Era 25 de outubro, três dias após o inferno que devorou Susana Gravato, a vereadora de 49 anos assassinada na própria casa pela mão do filho mais velho, de 14 anos. A capela ardente, improvisada no salão nobre da Câmara Municipal, transbordava de gente: vizinhos de olhos vermelhos, colegas do PSD com crachás desbotados, bombeiros em uniforme – o marido de Susana, diretor dos Voluntários de Vagos, prostrado ao lado do caixão branco, coberto de rosas vermelhas. O mais velho, o assassino de 14 anos, já estava longe, engolido por um centro educativo em Aveiro, regime fechado, onde tentam remendar almas partidas. Mas o filho mais novo, Dinis, de apenas 9 anos, estava ali. Pequeno, de fato preto que lhe ficava largo, os cabelos loiros despenteados como se o vento da Vagueira os tivesse bagunçado para sempre. Ele não chorava. Ainda não. Agarrava o urso de pelúcia que a mãe lhe dera no último aniversário, o mesmo que Susana usava para contar histórias de fadas que salvavam princesas de dragões.

A missa acabara. O padre, voz trêmula, recitava o “Perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem”. O caixão, polido como um espelho cruel, refletia os rostos em luto. Dinis, empurrado pela avó materna que o segurava pela mão, aproximou-se devagar. O silêncio era ensurdecedor – só o crepitar das velas e o soluço abafado de uma tia. Ele parou ao lado da caixa de madeira, ergueu-se nas pontas dos pés para ver o rosto da mãe, sereno como se dormisse após uma noite de pelouros intermináveis: Ambiente, Justiça, Coesão Social, as batalhas que Susana travava pela manhã, entre cafés e petições para os mais vulneráveis.

Então, veio o grito. Não um berro de fúria, mas um lamento agudo, arrepiante, que cortou o ar como uma navalha enferrujada. Dinis, os olhos vidrados de pavor infantil, apertou o urso contra o peito e gritou, num fôlego só, 17 palavras que ecoaram pelas paredes de pedra e se cravaram nas almas de todos: “Mamã, por que foste embora e deixaste-me aqui com o irmão que te matou? Volta, por favor, eu prometo ser bom para sempre!”

Crime em Vagos. "Como é que o menino fez tal coisa?" – Observador

O tempo parou. Um “ai” coletivo subiu da multidão – o mesmo “ai” que Susana gritara ao telefone, momentos antes do tiro fatal. A avó desabou de joelhos, puxando o neto para si, mas era tarde: as palavras já tinham escapado, cruas, inocentes, devastadoras. O marido, o pai dos rapazes, que horas antes jurara perante o microfone “Susana era o sol da nossa casa”, enterrou o rosto nas mãos, os ombros sacudidos por soluços mudos. Uma vereadora colega, com quem Susana partilhava lutas pela reinserção de vítimas de violência doméstica – ironia amarga para quem caiu pela mão de sangue –, desmaiou ali mesmo, amparada por bombeiros que, ironicamente, ele comandava. Vizinhos, que dias antes sussurravam “a família era tão unida”, agora tremiam, os rostos pálidos como as dunas da Vagueira ao luar. Alguém murmurou: “Meu Deus, o miúdo de 9 anos… ele viu tudo?”

Sim, Dinis viu. Não o tiro em si – ele estava na escola, a desenhar um barco para a feira de ciências –, mas o depois. O pai a correr para casa após o telefonema da amiga de Susana, o “ai” que caiu na linha como um presságio. A polícia chegando, as sirenes uivando como lobos famintos. O irmão mais velho, o de 14 anos, detido com as mãos sujas de encenação: gavetas reviradas, câmaras tapadas, a arma do pai – calibre 9mm, guardada no cofre que o rapaz decorara de cor. Ele confessou: planejava fugir com um amigo, roubar a moto, levar o dinheiro e a pistola para uma “aventura” que acabaria em tragédia. Susana, de volta cedo por enxaqueca, surpreendeu-o. Uma discussão – “pressionava-me muito”, diria ele mais tarde, num fútil motivo de notas baixas e sonhos sufocados. Um disparo na cabeça. O sofá ensanguentado, coberto por uma manta como se amor pudesse apagar o crime. Dinis, ao voltar da escola, encontrou o caos: a mãe levada em maca, o irmão algemado, o pai um fantasma.

Filho de vereadora ia fugir de casa com mota e arma do pai, chegada da mãe levou a homicídio

O grito de Dinis não foi só dor; foi acusação, súplica, o eco de uma família despedaçada. Nas redes, o vídeo – captado por um telemóvel trémulo – viralizou em horas: 3 milhões de visualizações no TikTok, #GritoDeDinis a trepar para o top das tendências. Psicólogos forenses, como Albino Gomes na TVI, analisam: “É o trauma infantil puro – culpa projetada, amor traído. Aos 9 anos, ele não entende o ‘porquê’, só o vazio.” O irmão mais velho, internado por três meses, não assistiu ao funeral – segredo de justiça, mas o peso da ausência é o mesmo. O mais velho da família, de 19 anos, estudante em Coimbra, regressou em silêncio, os olhos vazios, murmurando em post no Facebook: “A mãe merecia melhor. Deixem-nos em paz.”

Vagos, terra de mar e sal, decretou luto municipal: bandeiras a meia haste, escolas suspensas. Susana, licenciada em Direito, militante PSD desde 1994, defensora das vítimas de violência – pelouros que agora parecem profecia –, era o pilar: advogada que acolhia os fracos, mãe que lia contos ao serão. Seu legado? Uma cidade que chora, mas questiona: como um filho vira monstro? Pressões? Adolescência tóxica? Ou o silêncio que devora famílias unidas?

Dinis, agora sob os cuidados da avó em Ílhavo, acorda a gritar nas noites. Terapia semanal, um urso de pelúcia que cheira a mãe. Seu grito – aquelas 17 palavras – não será esquecido. Elas estremeceram Vagos, Portugal, o mundo. Porque num caixão, o luto não é só adeus; é o berro de quem fica, pedindo que o amor volte, mesmo sabendo que não volta. Susana, onde quer que esteja, deve ouvir: “Volta, por favor”. E talvez, num sussurro de brisa marinha, responda: “Estou aqui, meu amor. Para sempre.”